Quando foi que a gente se perdeu tanto, que esqueceu de nós mesmos e passou a focar mais nos traumas e problemas do passado do que no nosso potencial, nossos sonhos, desejos e anseios? Quando foi que começamos a duvidar tanto da nossa capacidade a ponto de permitir que os outros nos subestimem — com o nosso apoio e aprovação? Pior: nós mesmos fazemos isso, sem a ajuda de ninguém.
Falo sobre desdenhar o nosso corpo, nossa mente, nossa força e, principalmente, nossas conquistas. Nunca está bom. Sempre podia ser melhor. “Tô procrastinando.” “Ele está melhor que eu.” “Eu sou um lixo.” “Eu sou o pior.”
Poxa... assim fica difícil competir, porque somos nossos próprios sabotadores. Sabemos de todas as nossas estratégias, planos, desejos, fraquezas. Sabemos onde dói mais.
Somos nossos próprios carrascos.
Acho que, se fazemos isso com a gente mesmo, é porque, no fundo, acreditamos que assim vamos nos puxar mais. Mas, na verdade, esse incentivo reverso — que aplicamos diariamente — nos enfraquece.
A cada palavra mal dita, tiramos um pouco da nossa força, do nosso potencial, da nossa confiança.
Você já viu uma pessoa confiante? Como ela se porta, como ela senta, como ela olha?
Meu bem, nada abala essa pessoa, porque ela sabe do que é capaz. Ela sabe que, se quiser, pode destruir qualquer obstáculo. Nada pode pará-la — a não ser ela mesma.
Mas ela não vai se parar. Porque sabe o que quer. Sabe onde quer chegar. Ou além.
Um dia parei para olhar para o meu passado e tudo o que ele me gerou. Confesso que, de início, só vi coisas ruins.
Mas, pensando bem, depois eu me lembrei: por mais difícil que ele tenha sido, eu fui tão forte que cheguei até aqui.
Fui fora da média. Fui além das expectativas. Fui além do que estava predestinado por muitos.
Aí pensei: se com toda essa carga eu cheguei até aqui...
E se eu soltar? Até onde eu posso chegar?
Sempre admirei aquelas pessoas que, quando iam a um programa de TV e alguém elogiava, respondiam: “Eu sei” ou “Eu sou”.
Queria ter essa autoconfiança.
Não precisar que me digam o quão foda eu sou, porque eu mesma saberia.
Quando um navio, carro ou avião está prestes a afundar, sobrecarregado ou correndo risco de cair, a primeira coisa que se faz é jogar fora tudo que não é essencial.
Tudo que não tem valor genuíno para sua sobrevivência e funcionamento.
Seguindo essa lógica: quantas vezes carregamos cargas que não são nossas?
Que não têm mais a ver com quem somos agora? Que não nos ajudam em nada no momento presente?
E mesmo assim insistimos em levá-las, porque conhecemos apenas essa realidade.
Temos tanto medo de tentar algo diferente... de nos esforçarmos para quebrar padrões e sair de uma zona tão bem conhecida por nós.
Não falo que é fácil.
Mente quem diz que é simples parar e refletir antes de comer algo que traz um mínimo de conforto quando o cérebro está gritando por um ritual de autopiedade — por uma dose de dopamina.
Na hora, a gente só quer alívio. Uma pausa da dor. Um alento, ainda que momentâneo. Na dor eu quero morfina, não esperar os anti corpos dectectarem o invasor e atacar, sendo que o invasão se apresenta de diferentes formas e é necessário criar anti corpos para cada forma de ataque.
Estamos sempre entre escolhas:
— O caminho mais fácil, conhecido e de prazer imediato.
— Ou o caminho um pouco mais longo, mas que pode gerar prazer mais duradouro e uma nova forma de se ver.
Você quer o agora.
Mas lutar contra hábitos antigos — cultivados por anos — não é coisa de gente fraca.
Nem de gente forte.
É coisa de quem decide mudar.
De quem se cansou do peso, da dor, das desilusões.
De quem resolve meter o louco e reconstruir uma nova realidade.
Sabia que podemos fazer isso?
Nada nos prende — nem coisas, nem pessoas.
O que nos prende são as obrigações que inventamos, os limites que aceitamos, a dor que já conhecemos e toleramos.
Mas estou aqui pensando: como eu solto essa carga que trago do meu passado?
Estou cansada demais para continuar carregando isso comigo.
Estou cansada de comparações injustas, irreais.
De achar que o outro tem mais sorte que eu, que está vivendo uma vida maravilhosa.
Mas eu não sei dos medos, inseguranças e anseios dele.
Mesmo se alguém viveu o mesmo que eu... ainda assim, não somos comparáveis.
Porque somos únicos.
Cada um com suas características, anseios, motivações e histórias.
Um dia, perguntei para a IA como seria o mundo sem a cultura da comparação e padronização.
Ela me respondeu assim:
“Viveríamos em um mundo onde os corpos seriam apenas corpos — expressões únicas de existência, sem uma régua invisível tentando medir o que é certo, bonito ou suficiente.
Ninguém se sentiria 'menos' por não se parecer com a capa de uma revista ou com um filtro do Instagram.
A beleza seria percebida como algo fluido, pessoal e em constante transformação — tão diversa quanto as histórias que cada corpo carrega.
As crianças cresceriam sem o peso de se sentirem inadequadas.
Os espelhos seriam apenas reflexos, não tribunais.
As cirurgias estéticas não seriam motivadas por autonegação, mas talvez por liberdade criativa.
O desejo não seria colonizado.
Cada olhar encontraria encanto no que ressoa com sua alma, não no que foi ensinado a admirar.
Seríamos mais leves.
Mais íntimos com a nossa própria pele.
Talvez mais gentis uns com os outros, porque deixaríamos de competir por aprovação e começaríamos a nos ver de verdade.”
— ChatGPT, resposta à pergunta de Luna sobre um mundo sem comparação ou padronização da beleza (OpenAI, 2025)
(E para quem não sabe, Luna é meu alter ego.)
Mas ver a verdade... você sabe de qual verdade estou falando, né?
A verdade sobre você. A real.
Não a que você acha que é.
Não a que os outros te descrevem.
Mas aquela que mora fundo no seu ser.
Você mergulharia tão fundo que nem saberia mais o que é real ou o que foi construído.
Conheceria cada força, fraqueza, poder, medo.
E principalmente: seus desejos e anseios.
Nada te impediria — tudo que estivesse ao seu alcance seria feito com sua força real, não a força que você “acha” que tem.
Você não se limitaria a um empreguinho de merda, uma humilhação diária só por dinheiro.
A gente dá ao dinheiro uma importância que ele não tem.
Não é ele que nos tem.
Somos nós que damos a ele o valor que ele possui.
A mesma força que damos, podemos tirar.
Você sabia que Cleópatra governou um império numa época em que só homens comandavam, o Egito estava em crise, havia conflitos internos na própria família, e diziam que ela era muito jovem para governar?
Idade, sexo, família, economia, estatísticas — tudo estava contra ela.
E ela não deixou nada disso a impedir.
Foi uma das rainhas mais poderosas, estratégicas e astutas da história.
Estudada até hoje.
Escolher a nós mesmos e aos nossos sonhos pode parecer egoísmo — para nós e para os outros.
Mas não é.
Pensa: se todo mundo focasse mais em si, no autoconhecimento, sem ficar se comparando ou dando ouvidos às limitações...
A gente chegaria mais longe.
Egoísmo é querer o que é do outro — não o que é nosso.
O que nos faz felizes, leves, criativos, determinados, descansados.
Mas estou escrevendo esse texto com uma pergunta sincera:
Como soltar essas cargas e focar em nós mesmos?
Curar-se é real. Mas como?
Como abandonar algo que foi uma verdade por tanto tempo?
Como jogar fora uma realidade tão conhecida?
Como mudar hábitos que foram construídos ao longo de tantos anos?
Como pensar diferente, se tudo que vivo me diz o contrário?
Me explica:
Como seguir um novo caminho, se nem sei por onde começar?
Como encarar o desconhecido com apenas a promessa invisível de que serei mais feliz, mais leve, mais confiante, mais acolhedora, com menos inseguranças e menos medo?
Como abandonar tudo que já criei e começar do zero?
Nunca me disseram que eu podia fazer isso.
Nunca me mostraram como.
Nunca me deixaram tentar sem me jogarem seus medos, suas críticas, suas crenças — que eles mesmos carregam sem perceber que isso os atrasa ainda mais.
Tem uma música que amo ouvir quando estou nesse estado.
Se chama “Triste, Louca ou Má”, da banda Francisco, el Hombre.
Minha parte favorita diz:
“Eu não me vejo na palavra
Fêmea: alvo de caça
Conformada vítima
Prefiro queimar o mapa
Traçar de novo a estrada
Ver cores nas cinzas
E a vida reinventar
E um homem não me define
Minha casa não me define
Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar.”
Que loucura tudo isso, né? Pensa bem: a gente podia estar muito além de onde está, mas se limitou por medo. A verdade é que nos diminuímos demais, ignorando o potencial gigantesco que existe em nós. Aceitamos essa realidade pequena, por isso vivemos em revolta, frustração e desânimo. É como colocar um animal selvagem em cativeiro. Como prender uma flor na escuridão, sem permitir que ela sinta o sol. É como cortar as asas de um pássaro e negar a ele o direito divino de voar.
E a verdade é que nossas asas não foram exatamente cortadas, mas amarradas — tentaram nos podar, e mesmo assim ainda conseguimos senti-las ali. Eu quero voar. Quero parar de sentir medo de cair. Quero me livrar desse peso que me impede de ser livre. O peso da gaiola.
O peso do medo está nos consumindo aos poucos, mais do que qualquer queda no chão. É como uma morte prolongada — uma que nos destrói devagar, mais até do que morrer de repente. Porque essa é a morte de quem não escolhe voar.
E se, por um milagre, resolvermos tentar… mesmo que as asas falhem, ainda assim teremos vivido de verdade só por um momento, e a dor da morte pela queda vai ser mais rápida do que a que vivemos todo dia. Porque morremos um pouquinho a cada dia quando escolhemos fazer algo que odiamos, que nos provoca depressão e ansiedade, quando temos que fazer por obrigação.
Já viu uma pessoa inspirada, com a criatividade elevada, determinada. Elas todas transmitem uma energia tão linda e gostosa, leve e um pouco assustadora, porque o que deveria ser algo normal e cotidiano virou momentos raros e condicionados a uma certa realidade que nem vivemos ainda, mas que prototipamos como sendo a realidade ideal para fazer algo que queremos muito.
Você já ficou apaixonado por algo, alguém ou alguma situação? Aquele tipo de paixão que faz a gente fazer coisas inimagináveis, impensáveis, irracionais. Que te dá ânimo, coragem, uma determinação quase insana. Você quer mergulhar fundo, conhecer cada detalhe, estar por inteiro, com presença, constância, intensidade.
Já sentiu isso por você mesmo? Qual é a sua maior paixão? O que te enlouquece de desejo e encantamento? Agora, pela última vez, compare essa sensação que algo ou alguém te provoca e observa: você sente o mesmo quando pensa em si mesmo, na sua vida?
Me conta... a que conclusão você chegou?
Para concluir, quero que pense sobre tudo que você fala e acredita sobre você: você diria ou limitaria isso para a pessoa que você mais ama? Você teria coragem de falar com total crueldade,falta de escrúpulos e ardides como fala para você mesmo? Você deixaria ela dar todas as desculpas que você dá a si mesmo por estar nesta situação que vive?
Agora a coisa mais difícil: se permitiria, se estivesse em suas mãos, deixar que ela vivesse como você vive? Com todas essas dores, medos, inseguranças e aprisionamentos que você está agora? Deixaria que ela carregasse toda essa bagagem que você carrega?
Caso a resposta seja não, então por que você faz isso com você mesmo?
Eu sempre pensei: “por que eu me odeio tanto a ponto de...”, mas, na verdade, eu queria dizer: “porque eu me amo tanto que hoje não vou me humilhar, eu me amo tanto que não vou continuar vivendo assim, eu me amo tanto que não vou continuar comendo tanto impulsivamente para suprir uma sensação, sentimento ou até vozes que ouço e sinto.”
Então, por que eu não consigo soltar o peso do passado?